12.8.07

Aceitação X Caricatura

A modéstia não me permite revelar o nome do gênio criador da Hexapartição”, disse uma vez um professor da faculdade. Tomo as suas palavras e faço minhas, não obstante dirigidas a uma frase criada por mim nos lidos do século XXI (é, acho que foi semana passada): “quem não sabe quem é, acaba virando uma caricatura de si mesmo”. Pago pau pra essa frase pois ela é resultado de uns 19 anos de árdua reflexão. Sim, árdua, porque refletir, pensar, dói pra caramba. E eu costumava gastar uns 80% do meu dia confabulando (comigo mesmo, evidentemente) acerca da personalidade perfeita. Eu admirava muitas qualidades alheias, e sonhava em possuí-las. Fui construindo em minha mente uma espécie de inventário de predicados que eu gostaria de possuir, sonhando em como minha vida seria maravilhosa se os tivesse. Eu seria linda, dinâmica, espontânea, loira, teria um cabelo assim, uma tatuagem assado e, trocando em miúdos, seria perfeita.

Sim, uma perfeita aberração – constatei com o tempo. Eu seria uma caricatura ambulante, um ser sem personalidade, apenas com qualidades coletadas dos outros. A questão é que, uma qualidade só é qualidade quando em harmonia com defeitos. E eu, em minha ingenuidade, sonhava em ser uma dispensa de qualidades amontoadas desordenadamente. No dia em que eu tivesse aquela roupa, ou aquele cabelo, apartir daquele dia, minha vida mudaria. Eu seria uma pessoa interessante, glamourosa, e todos meus problemas acabariam. Era o conforto que eu encontrava. O consolo da realidade, eu buscava na idealização de um futuro tão imaginário quanto impossível.

Com o amadurecimento e com a terapia,posso ver o quão enganada eu estava. O meu problema, assim como o de muita gente poraí, é querer brilhar sempre, almejar ser sempre um ser excepcional, capaz de provocar admiração e inveja alheia. 24h por dia, ser uma estrela. Pois é muito mais admirável, garanto, ser uma pessoa simples, “legal”, “normal”, mas autêntica. Para que forçar uma espontaneidade que não existe, se sou tímida, por exemplo? Aprendemos, paulatinamente, a compreender a nós mesmos. Compreender que temos deficiências, fraquezas, que não serão ofuscadas ao tentarmos imitar a força alheia (que muitas vezes não é força, mas mera máscara social – muitas coisas parecem mas não são, não esqueçamos disso).

Esse texto não tem uma conclusão. Eu estou em fase de negociação com minha própria personalidade – estou aos poucos a aceitando, odiando-a e admirando-a. Mas posso afirmar que sinto estar no caminho certo.

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