Elis subsistia. Chegava em casa cansada do dia, ligava o rádio para sentir-se menos sozinha, olhava melancólica para o balançar das árvores e isso a fazia lembrar que ela vivia. O telefone tocava e, como sempre, ela ignorava. Pegava um livro na mão, lia duas páginas e desistia dele. Ligava o computador, entrava em um ou dois sites e depois enjoava. Via programas de tv (não até o final, claro). E essa sensação de “pela metade” imperava em sua vida. Era uma sensação triste, que ela sabia que tinha como reverter mas sabia também que não contribuía muito para isso. Talvez fosse a sua sina. Ela não se sentia merecedora de fazer parte do todo. É como se ela ameaçasse o equilíbrio das coisas. Ela não fazia parte do mesmo mundo do vento que balançava as árvores, dos artistas de tevê e das pessoas à sua volta. Talvez pertencesse mais ao mundo dos personagens dos livros: são mágicos, belos, intensos; mas não pulam pra fora de suas páginas. Lá estão presos pelos seu criador, à mercê de sua vontade. Elis era presa pelos olhos bitoladores dela mesma, escrava de seus próprios parágrafos. Assim ela era, cruel com ela mesma e com os outros. Tinha medo de compartilhar a melodia de seus versos.
26.2.08
A half Elis
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