12.9.07

Carta-homenagem à minha avó (1943 - 2000)

Dia 13 tu farias aniversário. Eu lembro que tu costumavas dizer que dia 13 não era número de azar coisa nenhuma, era número de sorte – segurando o corriqueiro chimarrão e comendo seus pãezinhos com geléia da colônia (eu aprendi a gostar por tua causa!).
Vó Vilma, talvez tu não saibas, mas eu penso muito em ti. Praticamente todo dia. Penso em ti com orgulho. Quando tu faleceste, eu era muito pequena pra te compreender. Mas hoje, pelos fatos, pelas conversas a teu respeito, pelas lembranças, constato o quanto tu eras sensacional. Uma mulher forte, à frente do seu tempo. Saiu ainda nova de Estrela, num tempo em que todo mundo se acomodava no interior, para trabalhar em Porto Alegre. Lá, formou-se em Direito. Primeiro lugar da turma! Eras muito inteligente e esforçada. Valorizava os estudos e o intelecto. Sabias o que queria. Já com os dois filhos, foi obrigada, pelas circustâncias, a deixar um deles, o menor, em Estrela. Sei que sofreste. Tu e o vô tinham que trabalhar e estudar muito, para poderem dar uma vida boa para os meninos. E conseguiram.
Gostavas muito de português – eis uma das muitas coisas que herdei de ti. Ah, dizem que eu tenho as mãos iguais às tuas. Lembro que me emprestavas teu esmalte (aquele rosinha fraco, lembra?) e me ajudava a pintar as unhas quando eu tinha uns 8 anos. Nos dias de celebração, tu pintavas as unhas de vermelho. Eu achava tão lindo! Eu gostava daquela caixinha marrom que guardava botões e joaninhas, que colocavas nos blusões de tricô que fazias. Eu sempre brincava com os botões, aquela era uma caixinha de surpresas para mim.
Das grandes lembranças que tenho de minha infância, em todas estás presente. Tu foste a melhor avó do mundo, sou muito grata a ti. O amor que tinhas por mim e pela minha irmã está até hoje marcado em mim, entranhado em meu ser. Lembro quando foste me buscar da escola após meu primeiro dia na 1ª série do Ensino Fundamental. Compraste um álbum de figurinhas das Princesas da Disney para mim! Folheou o álbum inteirinho comigo, leu as historinhas em voz alta. Fui almoçar na tua casa. Lembro do cheio do bife com batata frita que fizeste só para me agradar. E a sobremesa? Era sempre a mesma: um mousse metade de chocolate, metade de creme. Eram servidos em umas tigelinhas de vidro que sempre pedias para eu buscar na geladeira.
Arraigadas em mim também estão as lembranças de nossas brincadeiras de Barbie. Tu adoravas me ajudar a vesti-las! Era um sonho realizado, afinal nunca tiveste filhas. O teu sonho também era levar tuas netas para Disney. Conseguiste! Eu sei que já estavas fraca e com dores. Mas foi uma viagem muito feliz. Aliás, uma das coisas que adoravas era viajar. Numa época em que poucos conheciam o exterior, tu e o vô já tinham visitado toda a Europa e os Estados Unidos.
Vovó, eu lamento muito tua morte precoce. Eu lamento muito não ter te conhecido melhor. Penso nas conversas que nunca tivemos. Penso nas viagens que nunca fizemos. Tenho certeza que sou muito parecida contigo. Sede de independência, ânsia de viajar, de estudar. Gostaria que tivesse me visto quando passei na federal. Tenho certeza que me estimularia muito, ficaria muito feliz por mim. Às vezes me perco devaneando acerca de como seria te encontrar. O que eu diria, o que tu dirias. Eu teria tanto a te contar!
Sofro muito até hoje a tua perda. Me emociono muito ao lembrar de ti. Só tenho a te agradecer por tudo que foste para mim, pelas marcas positivas que deixaste em minha pessoa. Pelo amor que dedicou a mim. Eu também te amei muito, vó, e até hoje amo. Não sei onde tu estás agora mas um dia iremos nos encontrar, e daí conversaremos muito sobre Direito, viagens, unhas, amores...Tenho muito orgulho de ti, vó, e me espelho muito na pessoa maravilhosa que foste.

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