13.12.07

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." (Clarice Lispector)

Como dói...

Eu estou de férias. Mas isso não diz absolutamente nada pra mim.

3.12.07

Jamais trairia seu rótulo de mulherengo. Aquilo era mais que uma característica, era uma insígnia que trazia consigo desde os tempos de colegial. Eram seus quentes papos de conhecedor de mulheres que o promoviam dentre sua roda de amigos, tornando-o admirado e até mesmo escolhido como uma espécie de conselheiro amoroso – o que é, no mínimo, curioso, uma vez que estamos tratando de um homem que nunca amara ninguém. “Ninguém” em específico, pois ele era, sem dúvida, um fervoroso amante de mulheres. Loiras, ruivas, morenas, todas tinham um lugar em seu coração – e em qualquer outra parte do seu corpo também. O que lhe excitava no universo feminino não era a exclusividade, e sim a diversidade, a capacidade de variação; ele preferia a absolutização ao invés da relativização: talvez sejam esses os motivos que nenhum envolvimento seu durara o suficiente para que nutrisse qualquer tipo de relação afetiva ou qualquer outra coisa que fosse além do enlace sexual.
Foi com considerável interesse que observou a chegada da nova colega de trabalho. Parênteses: ele se chamava Juca, trabalhava para uma agência Publicitária em um amplo escritório tomado de mesas, computadores e,presume-se, de pessoas. A moça entrou discretamente. Ele concluiu: era daquelas que entram nas vidas dos homens de forma discreta, só para devastá-las, e depois saem de fininho. O passo era brando, delicado, mas decidido; cabelos lustrosos, cheios de vida e movimento (de um louro acinzentado tão bonito que chegava a incomodar os olhos de uma maneira tal...não sabia se era tal um cisco ou tal um colírio); nos lábios, um batom exageradamente vermelho, mas não o suficiente para ofuscar o brilho dos olhos, tão azuis quanto... o céu (não conseguiu pensar em comparação menos clichê). Foi descendo o olhar... o blazer bem costurado,combinado com o decote sutil, dava à moça um ar de mulher séria e provocante ao mesmo tempo. Ah, sim, a mulher era, sem dúvida, deslumbrante, mas nada que ainda não tivesse provado parecido. Era bonita o bastante para dormir com ele, pensou, mas não impressionante o bastante para intimidá-lo. Continuou seu trabalho no computador. Os murmurinhos à sua volta dificultavam sua concentração. Por que raios a chegada de uma nova colega de trabalho causara tantos comentários? Ou uma estagiária,que fosse. Deu uma risadinha debochada ao imaginar que os colegas – tão inexperientes... – deviam estar despindo a nova colega de trabalho com a mente,sonhando em um dia tê-la...
[continua]