20.6.08

Das sociedades frustradas

E lá estava eu, olhando a chuva respingar a cidade pela janela, me deliciando com um cappuccino e divagando acerca de relacionamentos frustrados. Amores contrariados. Destinos descruzados. Essas coisas.

Sabe que no direito societário, uma das causas da dissolução total da sociedade é o exaurimento do objeto social. Ou seja, uma vez esgotado o objeto de determinada sociedade, vale dizer, esgotada sua razão de ser, não há mais razão para continuar a pessoa jurídica.

E eu cá pensando... fazendo uma analogia (meio tosca, é claro) entre a sociedade e o ser humano. Quando entramos em um relacionamento pra valer, mergulhando de ponta e tudo, chutando pra longe a razão e a lógica, acabamos promovendo o ser amado para o centro das atenções e centro das prioridades das nossas vidas. Ou seja, transformamos o imbecil do nosso amor em objeto vital da nossa existência, em nossa razão de ser, em nosso objeto social (isso claro considerando que todas as pessoas do mundo são intensas, passionais e irracionais como eu...).

No momento em que o objeto social é exaurido, ou seja, que chutamos ou somos chutados pelo amor das nossas vidas, não há mais razão para continuar a pessoa física. Assim, de repente, não mais que de repente, se esgota a nossa razão de ser.

Se fôssemos uma sociedade, iríamos à falência total. Acabaríamos. De vez. Algumas pessoas, como o jovem Werther, também.

Daí eu me pergunto: como eu fui capaz de sobreviver a essa dor? Como nós somos capazes? Cãrã, nós somos muito fortes, implacáveis. A gente fica com o nada dentro de nós e ainda assim conseguimos transformar o nada em razão de viver, conseguimos nos reerguer e buscar novos objetivos. Claro, isso com uma ajudinha do senhor Tempo. Velho sábio. Senhor de respeito.

Mesmo assim, a gente não consegue transformar todo o enorme pedaço de nada em razão de viver. Algum pedacinho sempre fica. E esse pedacinho se chama vazio. Quem sabe um novo amor, ou uma nova possibilidade de amor, não pode nos ajudar nesse aspecto?

A essa altura meu cappuccino já está frio, e a chuva mais esparsa. Mas ela continua a molhar.

9 comentários:

Haroldo disse...

Há olhos que vêem na vida um suceder de frustrações, que esvaziam e deixa-na sem sentido.

Outros olhos vêem na vida um suceder de inícios e fins, que preenchem e atribuem-lhe sentido.

Já diria o Obelix:
há sempre um vazio há ser preenchido ehehehe
beijo

tua irmã! (ainda faço o meu blog) disse...

Ah, eu tou ligada...
Parece que tudo acaba, se vai, assim, puf!; embora eu seja suspeita pra falar, porque já te disse, eu amo tanto quanto uma pedra. E eu agora vou discordar de ti: não, esse pedacinho não se chama vazio. Ele é um todo, ele é o que restou na caixa de Pandora quando ela foi aberta, ele é a semente para o nosso recomeço, que vai brotar pro futuro, andando e cagando pro passado.
Essa é a função do pedacinho.
Claro, assim como todo o enorme pedaço era o passado e o pedacinho é o futuro, parte desse pedacinho ainda olha pra trás, porque nunca que vamos conseguir enxergar pra frente feito um cavalo encilhado, sempre vão ter aquelas lembranças que a gente não queria lembrar, aquelas memórias que nós julgávamos esquecidas há tempos. Fantasmas sempre existem, sempre vão existir, ainda que somente na nossa cabeça.
Eu podia discutir isso horas poraqui contigo, mas prefiro fazê-lo ao vivo, que aqui tu pode ficar com preguiça de ler e eu que aqui me encontro, me ferro. haeuhea beeijo guria!

Paula disse...

Acho que o tempo é resposta pra tudo. A sucessão dos dias nos dá força e saúde para cicatrizar de toda e qualquer ferida.

"Já vi o fim do mundo algumas vezes e na manhã seguinte estava tudo bem." (Engenheiros do Hawaii)

Mariana disse...

Realmente, não consigo me ver sem o meu amorzinho. Por ele faço tudo, o possível e o impossível. Se um dia alguma coisa acontecer e eu perde-lo, vou ficar com um vazio horrível por muito tempo...
ahuahuahauh
Essas coisas inexplicáveis memso
Bjão

Mauro Castro disse...

Você prefere café torrado ou acha que no cuador é mais gostoso?
Desculpe a piada grosseira - perco a amiga mas não perco a piada.
Há braços!!

Ana Carolina disse...

Ainda que demore, ainda que o tempo pareça nunca passar para curar essa dor, um dia ela some. E é incrível mesmo a forma como tudo acontece, principalmente na vida de algumas pessoas. A superação pessoal que isso implica.

E como soa tolo colocar uma pessoa no centro de nossa vida! Ainda assim, não sei como viver sem fazê-lo.

Bjos!

Ana Carolina disse...

Adorei o layout! =)

"A Gata" disse...

Passeando por blogs alheios encontrei o seu! E que coincidência, escrevi um post hoje mais ou menos desse "tipo"! rs... Adorei seu texto, e concordo com vc. Sempre quando terminamos um relacionamento, parece que o mundo desaba... Mas sei lá porque, estamos aí... Acho que por mais que exista aquele vazio, no fundo, no fundo, mesmo que inconsciênte, há alguma esperança... De que um dia dê certo =) Bjs!

olivia carromeu disse...

Gabi
As vezes o mais difícil da vida é viver e o mais simples é não se preocupar com os obstaculos da vida, e quem disse que as coisas não nos deixa triste. É assim, seria facil a gente não se preocupar, mas...