31.7.09

Tô indo aí pra me buscar [2]

Ao som de Pink Floyd, Dark Side of the Moon (the entire album!), flutuando em alguma órbita desconhecida.

Sem dúvida ando em hiato criativo, mas não pq minha vida não esteja uma bagunça digna de novelas mexicanas e contos fantásticos de Guy de Maupassant (…peraí que eu tô naquela parte da música em que a mulher dá uns gritos efusivos, eu preciso parar tudo, fechar os olhos e curtir essa loucura).

Pra falar bem a verdade, minha vida está mais novelística do que jamais esteve. Mais intensa e cheia de acontecimentos do que nunca dantes! Isso não significa que eu não me sinta vazia, mas pelo menos meu copo anda bem cheio! (Trocadilho infame). Aos poucos eu vou me reencontrando, relembrando a pessoa que eu era antes. Conquanto eu tente fugir de complicações e envolvimentos (desapego desapego desapego), parece que eles vêm até mim. E como canta uma música do Garbage, que provavelmente foi escrita pra mim, “I’m only happy when it rains”; vale dizer, eu amo complicações. Eu não meço o perigo, eu me atiro, e eu me escraxo, óbvio.

No momento estou na fase pré-escraxo, curtindo a intensidade do mergulho. Totalmente inconsequente e sem noção. Ando mergulhada em beijos e em álcool, não sei qual deles é mais ardente. Cada vez constato o quando eu adoro extremos, e mesmo sabendo que eles são perigosos, eu não consigo ser mediana. Eu preciso estar sempre atravessando o limite e testando tudo. Bem coisa de adolescente.

Como se percebe ando bem entorpecida. Numa fase “topando tudo”, “vale tudo”, ansiando por transgredir. E dispenso os moralistinhas dizendo que isso é falsa felicidade, que é pra mascarar dores, e blablabla. Eu estou ótima assim, mesmo sabendo que uma hora vou ter que parar. Agora eu quero mesmo é adrenalina, é sentir o sangue quente pelas veias, é viver no meio de fumaça, álcool e beijos ardentes.

22.7.09

Post codificado sobre as tristezas minhas, mais minhas.


O problema é que não é só uma ferida. São mais. São todas.
As alegrias no momento são só as imediatas. Pq mediatamente, mediatamente tudo é breu, uma escuridão densa e impenetrável. Então me foco no espresso curto bem forte, que eu adoro; num pedaço de torta com uma rara boa companhia; nas páginas nuas de um bom livro que tenho pela frente; nos olhares tenros e compreensivos do meu gato, que adora dormir no meu colo; num instante de conversa que vale à pena. No mais, até os prazeres imediatos estão parcos, e eu me fecho na minha bolha, como sempre faço nessas horas. É o meu esconderijo mais meu.
Imagem: HelloLolla.com

14.7.09

Palavras que não são minhas

"E o que eu desejo para mim e para você é esquecimento.
Coisa estranha de se desejar, parece mais uma maldição – pois quem é tolo de querer perder a memória? Eu mesmo vivo falando sobre a felicidade que mora nas lembranças e até mesmo acho que não está errado dizer que somos o que lembramos. Por isso gosto de contar casos, que é um jeito de fazer amor, dar aos outros pedaços da minha vida que o tempo já matou e enterrou, mas que a maga memória faz ressuscitar. Aquilo que a memória amou fica eterno,
disse Adélia Prado, e eu não me canso de repetir. A memória é a presença da eternidade em mim. E é para isso que preciso dos deuses, para que eu nunca esqueça, para que o passado volte sempre…
Recordo as Confissões, de Santo Agostinho. Releio seu maravilhoso capítulo sobre a memória, a meditação mais lúcida e profunda jamais escrita sobre o assunto. Diz ele: Palácio maravilhoso, caverna misteriosa, dentro da memória estão presentes os céus, a terra e o mar… Dentro dela eu me encontro comigo mesmo… É nela que moram os segredos da vida e da morte… E andando pelos seus caminhos, o santo vai à procura do obscuro objeto da nostalgia que faz o seu coração doer, e que beleza alguma é capaz de curar. Ele entra na memória como amante que vai à procura da amada, perdida…
E venho eu e desejo a todos o esquecimento… É que, por vezes, é preciso esquecer para poder lembrar…
Pois a memória, como o próprio santo notou, é o estômago da mente…. Para ali vão as comidas mais variadas, umas saborosas e de digestão fácil, outras amargas e impossíveis de serem digeridas. Quando isso acontece, o corpo se contorce e enjoa, e coisa alguma é capaz de fazê-lo feliz. Até que o próprio corpo se aplica o remédio, vomita, e assim se livra da comida que o fazia sofrer.
Memória, estômago: há nela coisas que precisam ser vomitadas, para que corpo possa de novo se alegrar. Pois o esquecimento é a memória vomitando o que faz o corpo sofrer.
Por isso que Roland Barthes dizia que é preciso esquecer a fim de ficar sábio.
Por isso que Alberto Caeiro dizia que o que ele desejava era desaprender, raspar de sua pele a maneira de sentir que lhe haviam ensinado, para poder, de novo, sentir o gosto bom de si mesmo.
Somos como um navio em que os detritos do mar vão se grudando, em meio ao muito navegar.
De tempos em tempos é preciso que o casco seja raspado, para voltar de novo a deslizar suave pelas águas.
Os detritos da memória depositam-se em nossos olhos, transformam-se numa nuvem leitosa, opaca, catarata, e nos tornamos cegos para o mundo a nossa volta. O mundo inteiro, então, se transforma num monte de detritos.
É preciso esquecer para poder ver com clareza. É preciso esquecer para que os olhos possam ver a beleza.
As Sagradas Escrituras contam a saga da mulher de Ló. Deus permitiu que o casal fugisse das cidades amaldiçoadas de Sodoma e Gomorra sob a condição de que não olhassem para trás, enquanto o fogo do céu as consumia. A mulher não resistiu à curiosidade, olhou para trás, e foi transformada em estátua de sal. Quem fica com os olhos fixados no passado se torna incapaz de ver o presente. E quem não tem olhos para o presente está morto.
Esquecer. Ver com olhos de criança – sem memória.
Mas nem sei por que estou dizendo todas estas coisas para explicar o meu desejo de esquecimento, quando o que eu quero dizer já foi dito por Alberto Caeiro:
O essencial é saber ver/ uma aprendizagem de desaprender/ Saber ver sem estar a pensar/
Saber ver quando se vê/ Ver com o pasmo essencial que tem uma criança, ao nascer/ Sentirse nascido a cada momento/ para a eterna novidade do mundo…
É isso que desejo para você e para mim, no início de cada ano: esquecimento. Tomar um banho. Deixar a água correr pelo corpo… Sentir os detritos do passado se despregando, e entrando pelo ralo. Recuperar o corpo sem memória da criança, para ver o mundo como se fosse a primeira vez…"

(Rubem Alves)

13.7.09

Pro Lixo

O sentimento de perplexidade diante da efemeridade de tudo, e da falta de garantias para qualquer coisa nessa vida, pode alavancar duas posturas.
Primeira: Viver deprimido ou, no mínimo, cronicamente melancólico.
Segunda: o contrário, que é auto-explicativo.

E foi nos embalos da segunda perspectiva e do início das minhas férias que eu resolvi mudar a minha vida. A começar pelo meu quarto, que foi 2/3 pro lixo hoje (algumas coisas aproveitáveis foram para doação). Chega de tralha atravancando o meu caminho.

Pelo menos é um começo, né?

9.7.09

Sem explicação

Ainda estou chocada e abalada em razão de um fato muito triste ocorrido recentemente. A gente pensa, pensa, e só chega a uma conclusão: não existe explicação pra essas coisas. Deve haver algo maior por trás disso, e eu acredito realmente nisso. É a única coisa a que podemos nos agarrar, afinal. O destino não vitima pessoas por merecimento ou por qualquer motivo razoável; do contrário, até. Ele parece querer nos tirar os jovens e os bons, aqueles para quem a vida prometia grandes feitos e muita felicidade, e aqueles que muito tinham a dar para os outros. Eu me recuso a crer em coincidência ou em casualidade. Há algo maior e mais forte por trás, que reserva a todos o que lhes é devido, em sua devida hora.

Refletindo de modo mais amplo, cada vez mais chego à conclusão de que não podemos esperar “garantias” na vida. Não devemos, jamais, nos apoiar em pretensa “segurança” a qual cremos que algo/alguém nos proporcione. Aquilo de “você precisa de alguém que te dê segurança”, é balela. Nada é seguro. Não podemos esperar garantias na sorte, no amor, e muito menos na vida. Quando menos esperamos, e de onde menos podíamos imaginar, a nossa convicção se mostra residir em estruturas não tão seguras assim. O que nos resta fazer, por mais clichê que pareça, é aproveitar até a última gota as pessoas que amamos, a nossa juventude (mesmo que seja de espírito) e a nossa saúde, afinal, o amanhã é realmente uma incógnita. Juro pra você.

5.7.09

The Girl and The City, parte I.



Eu chegava na cidade nova. Continente novo. Sabia que os meus sonhos juvenis me aguardavam, assim como meus medos. Talvez mil amores, mil rancores também... Vai saber. Eu desvirginava as calçadas, as ruas, meio boquiaberta. Tudo era tão novo, e um dia viria a fazer parte do meu cotidiano, da minha paisagem clichê. Seria tão natural pra mim que meus passos iriam me coordenando, mecanicamente, e não meus olhos, como faziam agora, procurando nas placas de língua estrangeira algum sinal de que eu estava indo no rumo certo para o meu apê alugado. Os prédios nunca dantes vistos me engoliam, e aos seus lados jaziam, impassíveis, blasés em sua imponência intangível, os monumentos antigos que já presenciaram guerras, discursos históricos e assinaturas de tratados entre países. Eram eles que olhavam pra mim jogando em minha cara que sim, finalmente, eu estava Velho Continente, perdida e sozinha, com bagagens e pensamentos interrogativos sobre o futuro, mas também com a certeza de que um sonho de criança começava a ser realizado.
Fonte da Imagem: It's Nancy's New Blog

UPDATE: Ganhei esses dois carinhosos selinhos da Gaby. Obrigada, querida!