Li em algum lugar que a diferença entre o amor romântico, encapsulado, tendente à simbiose (e, logo, fadado à retroalimentação, implosão e autodestrução - prognósticos dramáticos por minha conta) e o amor "verdadeiro", saudável, se situa no fato de que enquanto o primeiro é um "apaixonar-se", um "encantar-se", o segundo é um modo de ser, um "dar a", e não um "enamorar-se". (O amor romântico vai a cabo quando se tira o véu da ignorância; ele se sustenta, se faz aparecer, apenas na névoa. "O amor romântico é sustentado pelo mistério e se desintegra sob um exame mais detido" - Irvin Yalom, em O carrasco do amor.)
Isso me pôs a refletir (não me diga).
Me pôs a refletir como a minha posição, não apenas em relação ao amor, mas em relação à vida, como um todo, é um constante "enamorar-se". Estarei eu fadada à autodestrução?
Eu não sei ter um modo de ser. Eu não sei ser um "estar", muito menos um "estar constante". Eu, própria, sou um verbo. Uma ação. Eu existo quando estou me apaixonando. Não por uma pessoa, necessariamente. Mas por uma ideia, por uma fantasia. Sempre é por uma fantasia. Uma ilusão. Eu existo quando estou construindo a ideia cega na minha cebeça, e ainda não tirei a prova da vida real. Filminhos passam na minha cabeça. Há trilha sonora. Eu sou a atriz principal, geralmente idealizada. Há recursos cinematográficos. Tudo isso, veja bem, não possui nada de concreto. Eu posso pegar um ou outro elemento da realidade, uma ou outra informação que me foi dada, mas isso é o que menos importa. Eu estou, naquele momento, apaixonada pela minha própria ideia. Eu flutuo, eu crio imagens, sons, cores, perspectivas, expectativas. A partir daqui, tudo será lindo, tudo será assim. Tudo mudará. A partir daqui, tudo será uma espiral ascendente.
É sempre assim.
E sendo óbvio que o meu teto é de vidro, que eu estou construindo castelinhos de areia e mundos que não existem, à medida que vai ficando evidente o descompasso entre a minha ilusão e a vida real, que vai ficando flagrante que minha "paixão" não é "correspondida", bem...daí vem a parte triste. A frustração,a raiva. A revolta. A sensação de derrota, de escuridão, de vazio. Fica insuportavelmente gritante a aridez da realidade. A solidão.
Daí eu caio num buraco, e fico chafurdando na merda. Até que apareça o próximo unicórnio branco encilhado.