15.4.11

Hiding out behind the leaves

Que eu tenho várias dentro de mim, isso não é novidade, nem nada lá muito revolucionário ou inusitado.
Tenho versões melhores e piores. Tenho dentro de mim mulheres apaixonadas, mas que sabem ser bastante céticas e melancólicas também. Há mulheres lutadoras, há mulheres preguiçosas, há mulheres com muita e também com quase nada de energia dentro de si. 
Qual dessas mulheres estarei incorporando a cada dia? isso depende um pouco do meu arbítrio, um pouco das circunstâncias, um pouco das músicas que ando ouvindo, e muito de caso fortuito. Enfim, é completamente contingencial. Talvez eu tenha em mim algo de imutável e indestrutível, algo que seria, pois, irretocável - mas prefiro não o ter. O mundo é dinâmico, eu sou dinâmica, eu evoluo (e também retrocedo) com minhas experiências - sou tudo menos um robô engessado, estagnado, perfeito e acabado. Graças ao bom Deus (ou graças ao bom Voltaire, ou ao bom Platão, sei lá). 
Eu não quero viver numa 'eternidade imóvel', e eu não quero 'tampas no meu firmamento' (alusões a Kundera, que ando lendo e me apaixonando cada vez mais). 
Então.
Quem me encontra atualmente talvez nem reconheça a mesma menina que saltitava e cantava e pulava de festa e festa e de bar em bar com a qual eu me identificava até pouco tempo atrás. 
Se tem uma máxima que traduz meu momento atual, é “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o silêncio”.
Ando introspectiva, tímida, querendo passar despercebida. Me escondendo, na faculdade, atrás de um caderno, de um livro ou de um café solito; Em casa, no meu quarto; na rua, desapareço na melodia das músicas do meu mp3 e não sei de mais nada.
Se num primeiro momento entrei quase em pânico, me sentindo "esvaziada";
Se inicialmente eu fiquei preocupada com aquela melancolia que advém da solidão [voluntária, mas conduta diversa, nesse momento, seria inexigível];
Se no começo fui tomada de uma sensação de "cadê os convidados? cadê a música? cadê as luzes? cadê meu pai e minha mãe? cadê os espelhos? ACABOU A FESTA?"; #silencio.no hay banda.silencio.
Agora estou em paz.
Mais cedo ou mais tarde eu teria que passar por esse momento, por esse 'rito' de desconstrução de todos os símbolos que já vinculei à minha pessoa, de todas as caricaturas e fantasias que já criei pra mim mesma, de todas as ilusões a meu respeito em que eu - e só eu sou responsável por isso - me perdi.

"Tornar-se imperceptível, ter desfeito o amor para se tornar capaz de amar. Ter desfeito o seu próprio eu para estar enfim sozinho, e encontrar o verdadeiro duplo no outro extremo da linha. Passageiro clandestino de uma viagem imóvel. Devir como todo o mundo, mais exatamente esse só é um devir para aquele que sabe que é ninguém, que não é mais alguém."

Se esta é uma versão melhor ou pior ao lado dos outros, não sei. Acho que é uma versão menos 'cool' de mim. Sou eu com menos balacas, menos adornos, menos penduricalhos. Eu, só eu. É pouco? Talvez... Estou descobrindo. Talvez eu finalmente, depois de 23 anos, tenha perdido o medo de me olhar e 'descobrir'.

Like an apple on a tree
Hiding out behind the leaves
I was difficult to reach...

Um comentário:

Alvaro Vianna disse...

Interessante. Sou de uma geração que tinha mais definições. Ou achava que tinha. Os desdobramentos históricos mostraram que algumas dessas definições eram pífias. Não deixamos boas heranças. Sobretudo ideologias faltam ao mundo atual.
No entanto, seus referencias são dos melhores. Tenho certeza de que vai se descobrir uma excelente pessoa. É o que eu vejo, daqui desse lado da tela.

bjs