4.5.11

Olhos marejados, dilema diário.

Daí que eu recém acordei e minha cabeça já tá um turbilhão. Li uma reportagem sobre a vida de uma juíza de direito e cheguei à minha conclusão definitiva (comentário autoirônico, visto que não existem conclusões na minha vida, muito menos definitivas):

- Humm, chissà, chissà... humm.... já sei....a partir de hoje estabelecerei meu foco: vou me matar de estudar, vou fazer cursinho, e serei juíza... essa será minha meta a partir de hoje (ai que lindo, tenho uma meta! tenho um sonho! o meu sonho sempre foi ter um sonho!)! Será perfeito, salário inicial de mais de 17 mil, eu trabalharei dignamente e ainda terei tempo para me alimentar de cultura... 

(conclusão genial regada a cafeína, poderoooosa estimulante, que me deixa vidradona e alopradona por uns picos que duram... pouco mais de 10 minutos).

Uns 15 minutos depois, sei lá por que raios, peguei um livro de história da literatura brasileira, que fazia tempo que eu não estudava, e comecei a dar uma folheada despretensiosa. Meus olhos marejavam, fui invadida por uma serotonina fictícia, uma sensação de bem-estar imediata. Se é pq esse tema me remete à épocas gloriosas da minha vida, ou pq de uma forma ou outra eu o acabo associando a uma ideia idealizada de 'fuga' da minha realidade e do meu dia-a-dia chato, eu não sei. Mas, tiro e queda, fui tomada novamente pelo dilema perturbador: fico no Direito? luto pra ser uma juíza (na hipótese mais suntuosa, gloriosa, idealizada), ou tenho a coragem - ou covardia - de partir para uma graduação de Letras, correndo o risco de que tudo isso não passe de uma ilusão, um escapismo, e eu seja uma professora medíocre e frustrada, e ainda sem dinheiro para ir ao cinema, teatro, viajar, comprar meus livros, fazer meus cursos, tomar meus vinhos? Eu sei que a vida é uma só e não existe possibilidade de ensaio ou repetição, mas será que eu não merecia ao menos um indício, uma dica, um sinal, POR FAVOR?? 

11 comentários:

Bruno disse...
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G. disse...

Hahaha. Ok, Bruno. Te dou o aval, te peço, te imploro, te permito, te acolho, te 'tudo': fale! Adoraria te ouvir.

V. disse...

Oi G. boa noite!
acabei de conhecer seu blog qndo no google procurava pelo assunto caos criativo, que é a atual fase da minha vida...Tb sou formada em Direito e me identifiquei de cara com o seu súbito sonho de ser juíza... Estou perdida e pior que vc, pois nem o sonho de fazer um outro curso tenho. abraços V.

Anônimo disse...

Agora eu não sei vc foi irônica ou se falou sério, de forma exagerada. hahaha

Vou tentar chegar a uma conclusão quanto a isso até o fim do dia.

G. disse...

Ah, digamos que eu falei sério de uma forma farsesca... gostaria da sua manifestação, é isso!

Bruno disse...
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Júlia disse...

Não sei que diquinha dar. Só sei dividir o meu sonhinho: estudar, estudar, estudar pra ser juíza (e, confesso, viver dos louros de se ter uma meta inalcançável, compreensivelmente longínqua) e, nesse meio tempo, fazer letras, por prazer. A vida vai nos levar pra um milhão de caminhos. A gente só finge que tem algum controle sobre eles.

Bruno disse...
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Bruno disse...

"Será perfeito, salário inicial de mais de 17 mil, eu trabalharei dignamente e ainda terei tempo para me alimentar de cultura..."

"ou tenho a coragem - ou covardia - de partir para uma graduação de Letras, correndo o risco de que tudo isso não passe de uma ilusão, um escapismo, e eu seja uma professora medíocre e frustrada, e ainda sem dinheiro para ir ao cinema, teatro, viajar, comprar meus livros, fazer meus cursos, tomar meus vinhos?"


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Eu acho que esses trechos que vc mesma escreveu esclareceriam a sua dúvida.

Muita gente idealiza exercer a profissão que ama, a arte como carreira e tudo mais. Mas a realidade é que não é bem assim.

Claro que é perfeitamente possível vc ter uma carreira artística bem remunerada - não falando de artistas pop, da grande mídia, etc. - seja na música, seja na literatura, como professor ou não.

Mas que é difícil, é. Talvez até mais que a maioria das carreiras. E por motivos que todos já sabemos.

Vc não precisa fazer uma faculdade de Letras pra ser apaixonada por literatura. Essa lição eu aprendi que após me formar em Música. Lendo o seu "desabafo", me fica a impressão de que uma carreira bem $ucedida é importante pra vc, afinal vc quer poder ir ao cinema, ao teatro, viajar, comprar seus livros, fazer os seus cursos e apreciar os seus vinhos, imagino que com um certo conforto financeiro.

É muito bonito quando dizem que "o dinheiro não traz felicidade", mas se usado com inteligência, assim como qualquer outra coisa nesse mundo que habitamos, ele pode trazer sim. Afinal, cada pessoa tem os seus gostos e suas vontades e a maioria delas, pra não dizer todas, exigem algum investimento, seja o ingresso pro cinema, seja a passagem pra Londres, seja o vinho e a taça correta.

Mesmo ainda na faculdade (ainda está, né?), vc já iniciou uma carreira. Que de certa forma, é bastante promissora praqueles que se dedicam. Pq não investir nela?

Bruno disse...

Vc pode perfeitamente ser, na mais suntuosa e gloriosa das hipóteses, uma juíza bem-sucedida, com uma situação financeira bem confortável, que vai te permitir fazer as coisas que gosta (as mesmas que vc citou, e outras mais, talvez).

Vc não vai deixar de ser apaixonada por literatura, só pq não entrou num curso superior. Vc vai continuar lendo, conhecendo, indo atrás do que gosta. Pode fazer cursos, como o de história da arte que vc fez e tudo mais, apenas como uma paixão que vc tem, não necessariamente como uma carreira.

Falo tudo isso baseado na minha experiência com Música (como curso superior, não como arte). Não se pode negar que vc, se quiser, aprende MUITO num curso superior de arte. Mas praticamente tudo que eu aprendi nesses 5 anos em que estive na faculdade (3 no bacharelado, 2 na licenciatura) eu poderia ter aprendido/estudado por conta própria, principalmente no que diz respeito ao estudo do meu instrumento.

Basta olhar a sua volta... quantos dos melhores compositores, instrumentistas, músicos no geral, passaram por uma faculdade de Música? Mozart? Beethoven? Beatles? Tom Jobim? Egberto?

Faça a mesma pergunta com seus autores favoritos, seus diretores favoritos, suas bandas favoritas. Quantos passaram por isso? Garanto que poucos.


Vou te dar um exemplo que me veio na cabeça agora. Talvez vc não conheça, mas um dos sites brasileiros sobre bateria mais famosos – senão o mais – é o www.batera.com.br
O site é bem legal, tem entrevistas, artigos, colunas, testes, exercícios, forum de discussões e é patrocinado por várias empresas. Enfim, é bem profissional. E esse site foi criado por um advogado - imagino que muito bem conceituado, lembro de até tê-lo visto no Fantástico - chamado Carlos Maggiolo.

É um cara, pelo menos virtualmente, bem gente boa, que participa do forum e tudo mais. Tenho ele no FB há muito tempo e sempre vejo as fotos dos equipamentos dele. O cara tem MUITA coisa boa “bateristicamente” falando, kits e mais kits, coisas que não são nem um pouco baratas. O meu ponto é: é um advogado, respeitado na sua área, que leva a sua paixão pela música por fora, coordenando um dos maiores sites sobre o assunto no Brasil, estudando, comprando suas baterias - algumas raridades -, investindo no seu prazer, fazendo um som com os amigos e levando uma vida financeiramente confortável.

A não ser que vc realmente queira ser uma professora, lecionar, fuja da faculdade de letras. Se o que vc quer é estudar, conhecer, se aprofundar na literatura, faça isso por fora. Faça cursos, viaje, leia, leia e leia muito, coisas que eu imagino que vc já faz. E invista na carreira que vai poder bancar essa sua paixão.

Como eu já disse, não é uma visão muito romântica da coisa, mas pode fazer algum sentido (ou não).
De qualquer forma, fica sendo só um conselho de quem está do outro lado do dilema: cursou a faculdade do que gosta e hoje não sabe exatamente que caminho seguir! Hahahaha

Ficou muito longo, acho que ainda não consegui falar 100% o que eu queria e fugi um pouco do assunto principal, escrever bem e objetivamente não é uma habilidade minha. hahaha

Mas espero que tenha tido paciência de ler. E se depois de ler tudo, ainda esse apanhado de pensamentos alatórios ainda estiver meio confuso, leia só o resumo da ópera, que fica assim: estude, estude, estude, cresça, ganhe dinheiro pra fazer o que gosta, leia, beba, deguste, viaje, seja feliz, acorde todos os dias ao lado de alguém que vc vai olhar e pensar “you are more beautiful when you awake, then most are in a lifetime”, como diz a música no fim daquele filme de “roqueiros doidões” e domine o mundo.
=)

beijo

Bruno disse...

Confesso estar curioso pra saber que fim levou esse dilema (se é que ele teve um fim).