Como esperar que uma criança, que era obigada a estar brilhando nos palcos desde os 5 anos de idade, fosse normal? Frase parecida foi dita pelo próprio, na entrega de um Grammy que eu não lembro qual. Disse tudo. Querer que uma criança, crescida no contexto em que cresceu, fosse ‘normal’, é no mínimo exdrúxulo.
Comecei a entender um pouco mais sobre a vida desse homem (mulher? andrógino?) quando assisti o filme "Man in the Mirror: The Michael Jackson Story", algo como “O Homem no Espelho: a História de Michael Jackson”, no canal VH1, no final do ano passado quando estava em NY. Antes disso eu achava ele um total freak descontextualizado, que pulou do nada no cenário da música POP e uns metidos a entendidos diziam que se tratava de um fenômeno, uma lenda. Naturalmente, eu nasci em 1988 e, muito mais nova que ele, não acompanhei sua carreira (sua explosão precoce e sua derrocada) como minha mãe, por exemplo. Ao assistir o filme, comecei a entender um pouco a história dessa criatura, que aos 3 anos tinha como melhor amigo “Mr. Rat” (uma ratazana da casa em que a família, pobre, morava) e que sempre sofreu pressões horrendas e por parte da família. Se foi abusado pelo pai? Ninguém sabe, só boatos; mas é fato que sofria maus-tratos.
Documentários e relatos de amigos apontam para a extrema carência e baixa auto-estima de Michael. Amigos dizem que tudo o que ele queria era ser amado: todas as extravagâncias, bizarrices, cirurgias bizarras, enfim, toda essa necessidade de chamar atenção, que só resultava em auto-violência, era fruto de uma carência patológica. Ele não teve infância, não teve vida prórpia, nunca teve oportunidade de cristalizar uma personalidade e uma visão de mundo.
E nessa indefinição entre criança/adulto, homem/mulher, que permeou toda sua vida, desde a infância que nunca teve, só podia resultar em bizarrices to tipo “Neverland”. Se ele foi pedófilo? Não sabemos também. O fato é que sofreu duas acusações formais, sendo que a primeira, em 1993, foi resolvida em um acordo que pode ter envolvido mais de 20 milhões de dólares. Mas acho que a discussão vai muito além da pedofilia: é algo muito mais complexo. Ele mesmo não tinha certeza se era criança ou adulto, e tinha uma sexualidade anômala. Michael já deu declarações comentando que não via problema em dormir na mesma cama com crianças, apenas ‘as cobria e cantava uma musiquinha para que dormissem’. Isso pode parecer nojento, e é, mas vindo de quem se trata… Acredito que ele seja quase um inimputável, que realmente não tinha poder de dissernimento entre o certo e o reprovável. Não sei se ele chegou nas “vias de fato” da pedofilia, não acredito que ele tenha tido “tesão” por crianças. Acho que tudo é fato de um distúrbio sem precedentes de personalidade e de sexualidade.
Todos esses distúrbios supracitados refletiram-se também na forma bizarra com que tratava os filhos – Aliás, cá entre nós, alguém me explica como os filhos dele saíram mais branquinhos que leite?? – vestindo neles véus exdrúxulos que tapavam seus rostos, expondo eles do lado de fora de sacadas, etc. Vi um vídeo em que ele enfiava grotescamente mamadeira na boca de um dos filhos dele enquanto esse chorava compulsivamente, atrás de um véu preto horrendo.
O fato é que nunca poderemos compreender e explicar o bizarro Michael Jackson, mas que assim o era em função de todo um contexto mais bizarro ainda. Mas todas as esquisitisses não apagam ou reduzem, de forma alguma, sua genialidade. E agora ele se foi, deixando uma legião de fãs desamparados. O fato é, também, que aquele garotinho que cantava “Ben” não habitava mais naquele corpo alvo e deformado, fazia muito tempo. Ele não passava, em seus derradeiros anos, de uma figura infeliz, opaca e mal-amada. Enfim, I think he’s got enough.
* Post apressado e sem correções... mas estou sem tempo e realmente PRECISAVA escrever alguma coisa sobre ele.
Os melhores e mais marcantes, em minha opinião:
E Mais: “Ben”, “I’ll be there”, “Can you feel it”, “Don’t stop ‘till you get enough”, “Sugar Daddy”, “Man in the mirror”.