Logo que saio do cinema, adoro discutir sobre o filme que acabei de assistir, porquanto assim posso expor as opiniões e feelings que tive, e ouvir as da(s) outra(s) pessoa(s). Nesses momentos, geralmente, eu percebo que não fui apta a absorver com clareza ou a sentir com suficiente sensibilidade todas as mensagens que certos filmes são capazes de nos proporcionar. Especialmente se a minha companheira no programa é a minha mãe, que tem uma maneira de sentir e de se tocar com as informações recebidas (sejam filmes, livros, quadros, etc.) peculiarmente refinada, vale dizer, tem enormes sensibilidade e capacidade de percepção.
E assim eu e ela, este fim-de-semana, entre um gole de vinho e outro, conversávamos sobre um filme brasileiro o qual tínhamos acabado de ver – Divã, adaptação do livro homônimo da escritora gaúcha Martha Medeiros, a quem tenho grande admiração. O filme não é daqueles que a gente sai super sensibilizada, ou daqueles que nos provocam super epifanias e mudam nossa vida. Mas é um filme simples, leve, divertido, que se não nos atiça lágrimas, atiça risadas – das mais gostosas. Eu não tinha nada de muito profundo ou original a comentar sobre a obra, mas minha mãe, com suas naturais empatia e sensibilidade, acrescentou: “engraçado né, quando a gente se depara com dois extremos, temos a tendência a estigmatizar, julgar um dos dois, e a nos apegar ao outro”. Sábias palavras.
No caso em epígrafe, ela estava se referindo à personagem principal e sua melhor amiga, [ATENÇÃO, A PARTIR DAQUI O TEXTO CONTEM SPOILERS DO FILME “DIVÔ] as quais eram completamente diferentes: uma era super aberta, a outra mais bitolada ao seu mundinho; uma era aberta, arrojada, e a outra era conservadora, quase ortodoxa; uma achava que traição não era problema, a outra achava o fim do mundo; uma era super independente e achava que o seu marido não era ‘dela’, apenas fazia parte de sua vida (afinal, ‘gente não é dona de gente’), e a outra praticamente vivia para o marido, achando a infidelidade a coisa mais horrível do mundo.
Simplesmente lendo essas informações, você não tem tendência a julgar uma delas como sendo errada, e se apegar à outra? Eu, naturalmente, fazendo parte de uma geração nada careta, e me considerando, bem aberta, tive a tendência imediata de estigmatizar a amiga conservadora como mulherzinha/submissa/ultrapassada/coitada, e a comprar a causa da personagem principal, arrojada, moderna, ousada, espevitada, quase libertina. Já durante o próprio filme me dei conta de como havia sido ridícula (e de como eu não era tão mente aberta assim), e sim de que tudo é uma questão de contexto: a personagem moderna e arrojada estava feliz, sendo ela mesma, em seu contexto, da mesma forma que a amiga conservadora, casada, dona-de-casa, que vivia para o marido, era muito feliz e realizada em sua vida e suas ambições (por menores que essas possam parecer aos olhos de pessoas como eu, que pensam bem diferente). É uma questão de respeito e de contexto.
O bom do filme, e que me surpreendeu positivamente, foi justamente mostrar que não há posição certa ou errada: não teve uma das duas que se deu mal, não houve final moralizante: mostrou que ambas foram felizes com as ambições que perseguiram e com as idéias e concepções de vida que julgavam corretas.
OBS. NADA A VER: reflexão total realista da super diva MARILDA (de A Grande Família): “Homem é tudo igual, até quando é diferente”. Hahaha. Fato!
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